terça-feira, 18 de outubro de 2011

o cigarro. ai, o cigarro...

As horas passam, os dias e os anos também... e algumas coisas ainda não mudam. Outras, em compensação não apenas mudam, mas mudam de tudo! Mudam de lugar, mudam de espaço, mudam de tamanho, mudam de velocidade, mudam de intensidade, mudam de rumo,... simplesmente mudam.
Há um ano, um mês e nove dias eu criei esse blog. Era pra ser um diário, 'semanário' no máximo, mas obviamente a minha indisciplina não permitiu. Assim como também não permitiu o fim do meu amor bandido pelo cigarro, objeto da criação deste blog. Funciona assim: o primeiro dia é um inferno! Por mais força de vontade que se tenha a saudade dele é ofensiva, invasiva, dominadora. Mas como todos os outros, o primeiro dia só tem 24 horas e transcorrido esse tempo, ele chega ao fim. Ufa! O segundo dia é um pouco pior. Mas só um pouco. Ele ainda é remetido pelo isqueiro do fogão, pelos minutos esperando o que quer que seja, pelo computador... mas também passa. Com o passar dos dias percebe-se que a única coisa que é preciso fazer para não sofrer é esquecer da primeira vontade. E não, isso também não é tão simples assim, mas dá pra rolar. Beleza, o pior início ainda está por vir... a cervejinha sem a companhia do digníssimo! Ah, meu amigo... se você não estiver bem certo do que você quer, senta e chora. Ou se rende, porque a tentação é enlouquecedora! E esse papinho de esquecer a primeira vontade não cola! Até porque, ela surge a cada 5 minutos. Agora, se você superou isso.. meus parabéns! Você supera qualquer coisa.
Uma vez soube de um amigo que perdeu o irmão num acidente e parou de fumar. Indagado do motivo ou da relação, ele respondeu que, se era capaz de viver sem o irmão, também era capaz de viver sem o cigarro.
É, mas acho que ainda estou sem coragem pra enfrentar o primeiro dia de novo.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

carlton red x marlboro light: uma recaída

Vou contar uma história. Ela é rica em detalhes e talvez rendesse um livro inteirinho pra ela, mas tentarei ser bem breve e objetiva, retratando alguns dos fatos mais importantes.

(Essa é uma das vantagens de escrever. Muitas pessoas sugeriram que eu fizesse um videolog em troca do blog, mas eu falo de mais. Não daria certo, eu perco o foco. Escrevendo eu posso ler, reler e você só vai ler mesmo o que eu quiser colocar aqui. E ainda assim a qualquer momento eu posso mudar o que está escrito. E levo apenas 5 segundos, mais rápido que qualquer edição de vídeo.)

29 de dezembro de um ano qualquer. Seria apenas mais um final de ano.
Com o fogo que me é peculiar (signo, ascendente e lua em signos de fogo), saí pra rua com uma amiga. Passando pela porta de um bar no bairro mais boêmio do Rio de Janeiro, cruzamos com um grupo de meninos. Ao passarmos, um deles gritou o nome da minha amiga. Seguimos em frente, como conversávamos alto, imaginei que eles tivessem me ouvido chamá-la e repetiram seu nome. Mas eles vieram atrás e quando paramos no sinal para atravessar a rua, eles pararam de novo. Minha amiga reconheceu um deles como sendo um antigo colega do curso de espanhol.  Eram 5 e apenas o conhecido dela era do Rio. Nem precisei olhar muito. Tinha meu escolhido e ao comentar, ela não se surpreendeu – “A sua cara, amiga”!
Papo vai e papo vem, ela que não perdia tempo, já estava com o mais alto deles. 
Enquanto isso, como a única mulher restante dentre os 4 turistas aflitos para ficar com qualquer carioca, estava eu. Conversei com todos e falei sobre os mesmos assuntos com todos eles, mas quem eu queria mesmo não vinha... até que veio! Já chegou pedindo que eu mudasse de assunto, não queria que eu me repetisse mais. Ok, você quem manda!
-Seus olhos são azuis? - ele disse
-Não, são verdes. - respondi
-Não, são azuis! - ele insistiu
-Não são!!
Na mesma hora olhei para o poste no fim da rua com uma luz forte e fluorescente para que minhas pupilas se retraíssem e eu pudesse então provar que meus olhos são verdes e não azuis. Nesse instante, sem pedir permissão ou dar autorização, ele me deu um beijo. Um beijo que não foi só um beijo. Um beijo que abriu um livro em branco, infinito, que mal sabíamos que seria tão intenso, longo e diferente de tudo que eu já pensei que fosse viver na minha vida.

Aí nasceu uma história que em muitas vezes pareceu drama de novela mexicana, em outras um romance de sucesso do Chico Buarque ou, ainda, poderia ser manchete nas páginas policiais.

Tá bom, mas onde está o cigarro nessa história toda?

Pois bem. Dentre muitas idas e vindas, juras eternas de amor, maços de carlton red e marlboro light, mudanças de cidade, namoro à distância, envolvimento famíliar, muitos anos se passaram.
Como eu disse, essa história é muito rica em detalhes e reviravoltas cada vez mais impressionantes, não dá pra eu simplesmente colocar tudo aqui. De repente ao longo da caminhada eu vá me lembrando de situações específicas e assim, expondo outras histórias.

Passou. Da última vez que foi não voltou mais. Dois anos sem muitos movimentos na história. Não sem se falar, mas sem se ver pessoalmente. Até que aconteceu uma oportunidade e eu agarrei, fui, encontrei. Mas a angústia de não saber se meu plano daria certo e a recaída de um encontro engasgado há tanto tempo, me fez usar a muleta psicológica. 
Comprei um maço de carlton vermelho! Fiquei alguns segundos em frente ao posto de gasolina sem saber se eu entrava ou não e acabei entrando. Me permiti. Como me fez bem o trago daquele cigarro naquela hora, naquele lugar. Os seguintes não foram os melhores e eu percebi uma coisa importante. Eu me obriguei a fumar. Já tinha sentido essa sensação antes de parar de fumar, mas dessa vez foi mais nítido. Minha cabeça pedia um cigarro, mas meu corpo quase implorava que não. Porém, numa atitude quase que de desrespeito, eu levava o cilindrinho de papel à boca e passava fogo. 
Foi bom. Principalmente porque foi uma noite muito cheia de fortes emoções. Nunca é fácil reencontrar o grande amor. Ao mesmo tempo em que é bom perceber que certas coisas não mudam, independente do tempo que passe. Se apaixonar é muito bom e é ainda melhor quando se é correspondido. 
Acho que tive a sorte de ser correspondida na maioria dos meus amores e paixões. Até porque não consigo alimentar um amor platônico. Não tenho essa vocação.

Não fumei no dia seguinte, mas no outro fumei um único cigarro enquanto contava minha aventura. Me permiti de novo, e daí? Ainda é o mesmo fim de semana, é justo. 
Mas quer saber um segredo? Não consigo mais me ver dependente de ter um maço de cigarros na bolsa pra qualquer eventualidade. Menos mal.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

17º.

O cigarro aproxima as pessoas de certa forma. Quem fuma sabe bem do que eu estou falando. Você sai pra fumar um cigarro, normalmente a área de fumante é externa ou bem separada da de não fumantes. Normalmente não, hoje é lei, né? Aí, enquanto você está do lado do cinzeiro aparece outro fumante que só está ali pelo mesmo propósito que você, daí surge uma conversa, um sorriso, uma amizade e às vezes até uma paquera.

Há alguns anos minha avó estava internada em um hospital, na Barra da Tijuca. Ela ficou pouco mais de um mês no CTI. As visitas tinham 2 turnos: o primeiro era por volta de 14:00 e o segundo às 20:00. Como nós morávamos na zona sul, ficava complicado de ir e voltar nos dois horários, portanto resolvemos ir cedo e ficar até o fim do dia por lá. Todos os dias. Lembro que foi logo quando eu comecei a assumir o cigarro e aos poucos eu saia com a minha mãe pra fumar, até que perdi toda a cerimônia. 
Numa das vezes que estávamos do lado de fora fumando, eu reparei em um belo rapaz que se aproximou pra pedir o isqueiro. Emprestei, ele ascendeu seu cigarro e se pôs ao nosso lado. Começamos a conversar, ele disse que era de Niterói, conversamos um pouco mais de amenidades e ele se foi. Pra variar, a-do-rei!! Queria levá-lo pra casa! Passou e não o vi mais naquele dia.
No dia seguinte reparei que ele estava na fila da visita no período da tarde. Dei um sorriso de longe e ele se aproximou. Me disse que a mãe tinha sofrido um AVC e que estava no CTI. Contei da minha avó e trocamos histórias tristes. Acabou a visita, ele saiu pra fumar um cigarro e eu fui atrás pra fumar o meu também. Conversamos mais e assim começou uma paixonite. 
Eu queria ir todos os dias passar o dia no hospital e minha mãe não entendia muito bem, já que eu poderia ir só na visita da noite junto das minhas irmãs. Mas eu dizia que não queria deixá-la sozinha com meu avô, não era certo abandoná-los (oh, que exemplo de menina!). Até que ela percebeu meu affair.  Acredito que não teria problemas se eu não tivesse 16 anos, o rapaz 25 e ambos fossemos comprometidos. Está certo que meu relacionamento já estava no fim e era o começo de uma nova era na minha vida, mas eu abusei do amor dos outros, confesso. Pra variar o ex e o do hospital também tinham o mesmo nome (pelo menos minhas trocas são bem pensadas). 
Fiquei realmente apaixonada por ele. Cada um terminou com seu respectivo par, e foram umas 3 semanas de romance tórrido nos corredores do hospital. Até que a mãe dele teve alta e minha avó faleceu, na mesma semana. Ele chegou a me buscar algumas vezes no colégio, mas depois de pouco mais de um mês tomei implicância dele. Não me pergunte por que, não sei responder. Talvez ele estivesse mais apaixonado por mim do que eu por ele. Ou não, talvez a graça estivesse em se encontrar pra fumar um cigarro. Brochei. Não teve cigarro que resolvesse. Nunca mais soube dele.

sábado, 25 de setembro de 2010

gosto de cigarro. (gôsto, e não gósto)

Não sei o que acontece. Ondas gigantes de tristeza me encharcam todos os dias. Cada vez menos eu sinto vontade de fumar e é cada vez mais fácil evitar o primeiro cigarro. Mas tenho medo de estar entrando em depressão de verdade. O que me conforta é pensar no futuro, em quem eu estou me transformando.
Meu corpo tem dado sinais de estresse... aftas, amigdalite, dores no corpo, sem contar a constante falta de paciência. Não sei, acho que tudo pode realmente estar acentuado com a carência afetiva que, como uma boa canceriana, eu sinto.

"Letra 'A', vamos começar! - Alô, por favor o Alexandre está? - Ele saiu com a namorada, quer deixar recado?- Não obrigada, deixa pra lá!" Nessas horas a gente abre as páginas amarelas e liga pro nome mais simpático que vir. Eu nem quero nada de mais, só uma boa noite de sexo e mentiras. Aluga-se um namorado apaixonado por uma noite apenas. É muito sacrifício?? Sei não... vai ficar pra próxima!

Saí várias vezes e em duas delas eu segurei o cigarro aceso. Sinto falta de senti-lo queimando entre meus dedos, de manter a mão ocupada. Segurei mas não tive a menor coragem de colocá-lo na boca. Sei lá, não sei bem se ‘coragem’ é a palavra certa porque coragem eu acho que tenho, o que me falta de repente é disposição de voltar pro dia 01 de novo!

Outro dia conversei com um amigo que está no 46º dia sem cigarro. Não se rendeu em nenhum momento nesse período! Ele disse que a vontade continua quando está com alguém que fuma e que gosta de sentir o cheiro. Impressionante como não é bem assim que funciona comigo. Não gosto de sentir o cheiro, na maioria das vezes me enoja. Ainda não experimentei a sensação, mas acho que beijar uma boca fumante vai ser uma experiência e tanto. Vou me colocar no lugar de todos os namorados que reclamavam do meu cigarro!

Lembro de uma vez que convidei um namorado pra vir na minha casa enquanto meus pais estavam viajando. Na época ele nem era mais namorado, tínhamos terminado há poucos meses. O convidei para um last revival com a esfarrapada desculpa de conhecer a geladeira nova de casa. Aham.
Ele era jogo duro, nem imaginava que fosse aceitar. Inclusive porque ele estava numa nova fase, meio que se libertando do nosso relacionamento e uma das novas práticas dele era se livrar do cigarro. Ele nem fumava tanto quanto eu e dizia que eu ficava esquisitérrima fumando maconha. Porém aceitou meu convite, chegou aqui em casa e pegou uma cerveja na geladeira nova. Sentamos no sofá, conversamos e rimos bastante, por quase 1 hora e meia e eu ainda não tinha fumado nenhum cigarro, quando resolvi ascender. E antes de aproximar o isqueiro, ele me interrompeu e pediu que eu não fumasse. Perguntei por que (oh, pergunta mais ingênua!) e sem responder já saiu me dando um beijo, me jogando no sofá, na parede e me chamando de lagartixa. Foi ótimo. Dormimos juntos e na manhã seguinte ele se levantou e foi embora. Nós dois sabíamos que aquela seria a última vez, que nem tinha espaço pra uma próxima. E foi. Arrisco dizer que foi o único relacionamento que não deixou  nem um pedaço de linha solta pra correr. Acabou e ponto.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

enquanto espero...

(16/09 - 19:30h)

Que pacato! Foi divertidíssima a viagem e me acalmou. Você deve estar se perguntando: o que foi que aconteceu de tão divertido? Nada! Ri muito comigo mesma. Eu comentava as situações esdrúxulas e meu 'eu interior' morria de rir de mim.
Estou começando a me descobrir uma boa companhia pra mim! E sem cigarro nem mp3 pra acompanhar, só a minha cabeça e as minhas piadas internas (e olha que não são poucas).

Me antecipei e peguei um ônibus antes do combinado. Meu amigo não estava a minha espera. Depois de inúmeras tentativas de contato mal sucedidas, resolvi sentar num bar e tomar uma cerveja enquanto escrevo um pouco. Que pacato!
Há uma delegacia e 4 bares numa pequena avenida (se é que posso assim chamar) com um canteiro no meio.
Lembro que ele comentou que tem um fusca. E aqui só tem fusca!! O problema é que nenhum deles tem ele dentro.

Quando cheguei na rodoviária achei que tivesse que esperar 1 hora e meia pra pegar o outro ônibus. Confesso que entrei em desespero! Como eu ia esperar tanto tempo sem fumar nenhum cigarro? Eu me fiz uma promessa e talvez isso facilite minha jornada. Não estou proibida de fumar. Quando eu sentir uma vontade descontrolada eu posso fumar e prometo que conto pra vocês. Claro que conto. Até porque senão não teria sentido eu estar aqui.

Tive uma boa experiência com fuscas. Há alguns anos eu saía com um cara que tinha um. Todo turbinado, caixa de som, todo elétrico, maneirão. Paralelo a isso eu comecei a sair com outro proprietário de fusca (era minha época das vacas gordas) tão maneiro quanto o primeiro, porém menos problemático. E na minha vida, problemas já bastam os meus. Não se achega pra me agregar problema não, que eu estou correndo.

(ai... beber, escrever, lembrar, pede tanto um cigarro... bom eu estar bebendo, assim quando ele chegar eu estou mais tranquila)

Ironicamente eles também têm o mesmo nome além do mesmo carro. E o carro do 2º nem era nada turbinado. Muito pelo contrário, a porta do carona precisava ser carregada durante a viagem pra não abrir. Por um tempo eu saí com os dois, estava me sentindo no direito de escolher quem era o melhor pra mim. Era tão bom! Mas não teve jeito, meu coração pulou mesmo foi pelo 2º. Como foi ficando mais sério, me senti na obrigação de ‘terminar’ com o 1º, que me questionou: “É só porque eu tenho um fusca?” 
“Mas é claaaaaaaaro que não! Ele também tem um fusca e pior ainda, que eu preciso segurar a porta quando o carro está andando, se não ela abre!”, eu respondi.
É química mesmo, né? Nem me importo com carro, de Maria Gasolina eu não tenho muita coisa não – apesar de ser uma delícia se amassar no carro, né? Ta aí, tenho muitas histórias com fuscas, mas nenhuma delas passa dos 25ºC. Tudo morninho. (já está mais do que na hora de averiguar o espaço interno do fusca! hohoho)
Namorei quase 3 anos com ele. Nesse tempo o fusca morreu várias vezes até que definitivamente. Aí ele comprou um uno. Bom também.

E nada dele ainda. Daqui a pouco já tomei um engradado sozinha, caio bêbada aqui e vai ser muito engraçado. Para os outros, porque pra mim vai ser no mínimo dolorido.
Nem tem muitas pessoas por aqui. Estou na varanda do bar e ao meu lado tem mais um único cliente. Acho que é um professor, pelo menos assim a balconista o chamou. Deve ter seus 50 anos, está com seu notebook na mesa, bebendo uma cerveja, atualizando alguma coisa na Folha Dirigida e... fumando. Ele tem um maço de cigarros! Pra acompanhar, está rolando um Boca Livre no som.

Frio de repente. 3ª garrafa. Nenhum cigarro.

O professor começou a assistir a um vídeo muito bizarro, com uma mulher cantando muito mal. Deve ser um vídeo de um showzinho ou algo parecido. “Se eu digo pare, você não repare no que possa parecer. Se eu digo siga, o que quer que eu diga você não vai entender. Mas se eu digo venha, você traz a lenha pro meu fogo acender”.

Quase pedi um cigarro a varejo. De repente eu ainda peça. Só tenho muito medo dele, na verdade estou me cagando de medo dele. E se ele me engolir e me dominar de novo?

O professor mudou a trilha radicalmente para U2! Irado! Mas está diferente. Que esquisito! Até a versão de ‘I still haven’t found what I’m looking for’ é estranha. Tem um coro e não é o Bono que canta.

Fui no bar pedir um cigarro a varejo. NÃO TEM! Isso é um sinal. Ela me indicou onde comprar, mas eu não vou. Ih, coincidentemente meu amigo chegou! 
(não to dizendo? ele é anjo!)

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Enquanto esperava o ônibus na rodoviária e em outros momentos de espera, troquei o cigarro por um bloquinho e uma caneta. Eis alguns rabiscos.

(16/09 - 14:10h)

Tudo estranho sinto como se eu pudesse explodir a qualquer momento. Sei lá, uma fusão de diversos sentimentos. Me sinto feliz pelo progresso, feliz pelos 7 dias com apenas 1 multa. Ontem fiquei horas pensando, tenho tanta coisa pra dizer. As palavras se confundem muito na minha cabeça. As vezes morro de medo de estar surtando sem perceber. As pessoas do meu cotidiano não têm percebido nenhuma mudança, dizem que estou exatamente a mesma coisa de antes e a única diferença é que não estou carregando um cigarro na mão de hora em hora. Só que essa pequena e única diferença é a responsável por toda uma transformação interna, uma guinada que de repente por enquanto ainda não seja possível se perceber a olho nu, externamente.

Me sinto desequilibrada. Eu sei, parece que estou sendo contraditória as vezes, só que é assim: eu percebo que alguma coisa muito importante, diferente e boa está acontecendo dentro de mim. Eu sei que é bom, sinto que é melhor. Só que ao mesmo tempo passar por essa transformação é bem doloroso.

Ontem fui no Centro espírita Lar de Frei Luiz. É lindo, uma paz incrível, me fez um bem e tanto. Sou espírita, quer dizer, nasci católica fui batizada na igreja e consagrada à Nossa Senhora da Conceição. Quando eu era mais nova minha mãe carregava nós 3 para a missa todo santo domingo e em alguns tínhamos até roupa nova. Eu achava um saco! Minhas irmãs também não curtiam muito não. Alguns dias eram até legais, mas só em dias de festa quando tinha o defumador. Adoro o cheiro das cinzas. Volta e meia eu tentava arrumar alguma desculpa pra não ir, mas raramente colava. Até que crescemos um pouco mais e minha mãe desistiu da obrigação.
Depois de bem mais velha resolvi ir à um Centro Espírita pela 1ª vez. Não lembro como essa onda começou aqui em casa, mas sei que ficou. Minha mãe se converteu, se voluntariou e hoje é estudante do evangelho. Eu não cheguei a ser batizada no Centro, mas me tornei espírita por convicção.
Foi bom, rezei e foquei minhas energias no controle da ansiedade. Saudades do cigarro.

Estou na rodoviária esperando o ônibus. Resolvi me desconectar por 4 dias. Renovar as energias num bom banho de rio e cachoeira, me enfurnar no meio do mato.

O cara que ligou ou desligou o interruptor. A razão do meu estalo. Não contei isso antes, mas acho que troquei o cigarro por ele. Em todos os momentos que eu lembraria do cigarro eu penso nele. Eu sonho todos os dias com ele e qual não é minha surpresa quando eu acordo.. estou pensando nele! Ta vendo? Eu estou surtando! Preciso de um médico urgente! Soro, maca, internação!!
Fiquei com vontade de dizer pra ele que eu estou apaixonada, ou que sofri uma espécie de transtorno e que preciso de ajuda porque ele ficou preso como objeto da minha maluquice!

Será que isso tudo é falta do cigarro? Como é que pode, né? Um cilindrinho de papel com uns matinhos dentro! Como pode ter todo esse poder?

Então, quando eu disser isso pra ele, quando as palavras saírem da minha boca talvez eu me dê conta do quão ridículo é isso tudo e depois fique tudo normal de novo. Ou não. Ou ele se vira pra mim, diz que isso é tudo que ele sempre sonhou ouvir da minha boca, chega perto de mim, cheira meu cangote (sem perfume de cigarro!!), me dá um beijo de tirar o fôlego e completa na seqüência um sexo animaaaal! Ai, ai..
Brincadeira boba! Lógico que é tudo fruto da minha imaginação e eu não desejo nada disso! Ta certo, a falta do cigarro pode estar me causando realmente um certo delírio literário, que é acentuado pela carência canceriana em período de ovulação. Ihhhhhh.. melhor parar por aqui.

Entrei no ônibus! To tensa! Vou estar desconectada do mundo e isso é muito bom! Acho que vou parar de escrever sobre isso. Por 2 motivos: 1º que o ônibus vai andar e 2º porque acho que estou ficando mais nervosa de escrever sobre o assunto. Fui! Bom de mais! Deseje-me sorte!

no mundo da Jaia

Não ia conseguir dormir sem tentar pelo menos colocar pra fora um pouco de tudo que eu transformei e estou transformando. Foram 4 dias incríveis. Do início ao fim.
Nada de cigarro. Esse aí foi um figurante qualquer nas minhas memórias de fumante. Eu o vejo como outros olhos hoje, olhos de decepção. E esse, pra mim, é o mais irreversível dos sentimentos. Foram poucas vezes que eu senti falta dele, quer dizer, acho que nem lembrei tirando a vez que Potira fumou um, mas como ele era de filtro amarelo, já me tirou toda a libido. Potira é mulher do Fernando e mãe da Jaia, uma menina linda de 4 anos, com o sorriso mais iluminado que já vi. Nos conhecemos num curso de permacultura em Minas.

Permacultura??? WHATAFUCK???
Resumindo, se for possível, a permacultura é perceber que você faz parte de uma teia e que você está conectado energicamente a tudo. E tudo que você produz precisa respeitar os ciclos da vida. Porque alimento é excremento e excremento é alimento. Compreendeu? Não e nem vai. Pelo menos não assim, comigo aqui explicando.

Tudo bem, mas de onde surgiu essa ideia maluca? Bom, vou voltar alguns dias pra explicar.
Eu sempre tive consciência do que é o cigarro. Nunca fui enganada com nada, me vendi porque quis, porque comprava o custo-benefício. Só que eu sabia que em algum momento a chavinha ia virar. E virou.

No dia 09 de setembro de 2010, eis que ressurge na minha vida um amigo de escola. Um amigo que estudou a vida toda do meu lado, mas nunca fomos de conversar muito, nem éramos da mesma turma. No último ano do colégio ficamos amigos da mesma galera, o que nos aproximou um pouco nos anos seguintes. Chegamos até a cursar a mesma faculdade, porém em turnos diferentes. E a vida de cada um seguiu seu rumo, sem muitos encontros nos últimos anos. Até que resolvemos, com os amigos, nos reunir num show. Combinei com ele mais um amigo de comprarmos juntos os ingressos com antecedência. Cheguei no local combinado e nenhum dos dois tinha chegado. Fiquei do lado de fora com meu (ex)companheiro, o cigarro. Logo em seguida fui surpreendida com o que eu via caminhando em minha direção. Nooooossa! Que gato! Que espetáculo de homem com o mais lindo sorriso estampado naquela cara cheia de cabelo e barba! Meu Deus! Que belo rapaz!
Foco, Maria, foco! 
Pois bem... não se passa de um velho amigo, não é?

Nesse mesmo dia tentamos ir num samba de noite, mas não rolou. Acabamos tomando algumas cervejas e mal sabia eu do que aquela noite ainda me aprontava. 
Fomos conversar e dar uma volta na praia. Só nós dois. Já era dia 10 de setembro de 2010. Papo vai e papo vem, num dado momento ele solta a bomba catastrófica capaz de mudar toda uma vida: “você é ansiosa por causa do cigarro e não ao contrário”. Pronto! Plim! 
Eu tinha acabado de apagar um, me lembro nítidamente dele. Me lembro desse momento, me lembro do que eu estava pensando enquanto fumava. Apaguei esfregando a brasa na pedra e coloquei do lado da latinha de cerveja pra jogar no lixo depois. Nem conversamos muito sobre cigarro, o assunto girou bastante, chegou até ao convite pro curso de permacultura. Mas eu não conseguia pensar em outra coisa. Eu tinha acabado de me desligar de alguma coisa e isso era realmente sério pra mim naquele momento. Esqueci até das minhas segundas, terceiras e quartas intenções quando topei passear com ele na praia! Voltei meio calada.

Eu tinha um maço pela metade e um maço fechado. Simplesmente peguei os dois e coloquei nas coisas da minha amiga. Pra ser sincera eu queria ter jogado fora, mas aí lembrei que as pessoas continuam fumando independente de eu ter parado e achei melhor doar a minha doença. 
Deitei na cama e fiquei horas pensando se eu realmente queria fazer aquilo. E quis. E até agora, exatos 10 dias passados, não me bateu nenhum arrependimento.

Cara, eu não estou proibida de fumar, estou? E se eu quiser simplesmente ascender o cigarro que alguém deixou em cima da minha escrivaninha agora? Eu sou uma pessoa pior por isso? Alguém me impede? Não!! Eu sou livre! Posso fumar o que eu quiser a hora que eu quiser. Então é OPÇÃO! É DECISÃO! Não quero e ponto final. Não quero porque não quero e não porque não posso.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Já não me importo mais há quantos dias ando. Tenho tido variações no humor e falado mais do que nunca. A vontade depois das refeições permanece e é cada vez mais crescente, mas é só eu olhar para o lado e observar as 3 chaminés com quem moro e a vontade é saciada pelo cheiro.
Ontem por vários momentos eu quase pedi um cigarro. Minha necessidade de tê-lo nas mãos é a velha companhia quando o assunto acaba ou quando me sinto sem saber o que falar. O cigarro está no momento da insegurança ou quando se está há muito tempo no mesmo assunto e ele acaba sem deixar um rabixo para o próximo tema. Aí nasce um cigarro reluzente no isqueiro e quebra o silêncio.
Ta aí. Segurança. Nunca tinha me atentado para essa questão, por isso volto pra dúvida: a ansiedade traz o cigarro ou o cigarro traz a ansiedade?
É realmente engraçado, me sinto significativamente mais calma. Eu sei que acabei de dizer que estou falando mais que atendente de telemarketing, mas mesmo assim me sinto mais tranqüila. Outro dia me peguei com o seguinte pensamento: se eu posso programar a minha vontade de fumar, eu posso programar qualquer coisa que aconteça na minha cabeça.
Resolvi que isso é só uma experiência e não mais que isso. Quer saber? Paro de fumar até daqui a um ano! Serão aproximadamente 300 posts até lá (se eu me comportar e postar frequentemente). Então se isso é só uma experiência eu posso tagarelar, escrever e me exaltar o quanto quiser, afinal a minha intenção é realmente testar as minhas respostas à ausência do cigarro e quando isso tudo passar eu vou fumar muitos maços de carlton red!
Ok, mas enquanto isso não acontece vou contar mais das nossas histórias (sei que ele me fará muita falta nas próximas linhas, mas com certeza já é bem menos do que no primeiro dia – penso também como é melhor meu computador sem cinzas de cigarro e isso me deixa um pouco mais feliz).

Aqui em casa sempre teve espaço para mais um maço. Minha mãe fuma desde muito nova e casou-se com meu pai, outro fumante de carteirinha. Alguns anos antes do casamento, meu avô materno parou de fumar seus 4 maços diários, que o acompanhavam inclusive durante as refeições. Deve ter sido uma difícil decisão.
Minha avó materna já não fumava há alguns anos e essa decisão foi sábia já que ela sofria de uma doença crônica que afetava os pulmões.
Aí vieram as filhas: uma, duas, três! Na terceira o velho pediu arrego e saiu de casa, deixando minha mãe com as crianças. Imagino que tenha sido uma época com forte e crescente alta nas vendas da Phillip Morris/British Tobacco.
Como sempre e como tudo na vida, o tempo passa e acomoda as folhas no jardim. Sem ressentimentos os dois se casaram novamente, com outros pares (daí vem meu casalzinho de irmãos mais novos – do meu pai).
Acabo de recordar a minha real primeira experiência com o cigarro, sem tragar eu acho. Poucos anos após o novo casamento, meu pai e sua esposa se mudaram pra uma pequena cidade na região serrana do Rio de Janeiro. Durante a mudança, meu pai deixou um cigarro apoiado no cinzeiro. Eu, na sagacidade dos meus 7 ou 8 anos, roubei o cigarro e fui sentir a sensação de estar apoiada com os cotovelos na varanda e a mão próxima à boca com a bela formação da fumaça ao meu redor. Acho que envelheci uns 20 anos naquele momento – ou pelo menos me senti assim. Acabou, eu joguei o cigarro fora e entrei. Deixei meu pai algumas horas desesperado procurando o cigarro sem saber se a casa estava no perigo iminente de explodir ou se por engano ele o tinha largado dentro de algum armário. Obviamente me calei, mas no fundo, no fundo, eu sei que sentia uma imensa vontade de rir daquilo tudo e dizer pra ele que estávamos todos livres do cigarro. Pelo menos daquele e naquele momento.

domingo, 12 de setembro de 2010

dia 03 (ou dia 01 de novo)

Opa, titubeei mas voltei! Acho que vir aqui todo dia vai ser uma terapia. Ta aí! Vou fazer um diário de bordo mesmo dessa viagem curiosa que eu resolvi entrar. O problema é que eu falo de mais, e escrevendo então... eu desembesto! Mas ninguém está te obrigando a ler isso aqui, está? Então quer saber? Vou escrever feliz e se você achar que está chato feche esta página e assista a este vídeo no youtube - http://www.youtube.com/watch?v=U-j6MWzS_7Q

A ansiedade chama o cigarro ou o cigarro chama a ansiedade?
Há algum tempo eu resolvi que precisava tratar a ansiedade. Que não pode ser normal uma pessoa roer tanto os dedos como eu rôo. E é dedo mesmo, as unhas já se foram há muitos anos. Acho horrível, a primeira coisa que eu normalmente reparo nas pessoas são as mãos. É lindo de ver uma mão toda certinha, com as unhas inteiras e aparadas. Que delícia se coçar, tirar cravo, fazer cafuné e carinho nas costas com as pontas dos dedos. Chegarei lá!
Pensei nisso porque é o mesmo tipo de relação que eu levava com o cigarro. A unha vem pra suprir a falta de alguma coisa que eu ainda vou descobrir. Assim como o cigarro foi meu companheiro e hoje estou nessa dolorosa separação.

Até que eu imaginei uma separação mais penosa com o cigarro. Ontem estava eu, toda entretida e empenhada em escrever mais uma patacada de coisas por aqui. Mas depois de algumas especulações sobre onde ir no sábado à noite e de ter alegremente optado por ficar em casa curtindo minha depressão SEM CIGARRO, fui acometida por ligações de terceiros e acabei cedendo. Mas vamos começar do começo.

Sexta tive minha primeira prova de fogo. Saí com amigos, bebi, me diverti, fumei cigarros de artista, mas o caretinha mesmo ficou pra trás. Não vou dizer que em momento nenhum senti vontade de fumar, seria uma linda mentira. Senti sim. E muita. Mas bem contornável. Até agora ainda não tive nenhum ataque de tremedeira, mão suando, nem nada parecido com uma crise de abstinência. É esquisito, eu sei, mas não é bem dependência que eu sinto, é saudade mesmo. O que mais tem me chamado a atenção é a tristeza quando eu lembro que parei de fumar. Confesso que tomei uma ‘equinha’ dele, mas ele estaria ao meu lado enquanto escrevo essa história.

Bom, segunda prova de fogo. Como disse, sábado resolvi sair. Só que dessa vez meu final não foi tão belo assim. Na verdade poderia ter sido, mas eu não sei o que me deu, pedi um cigarro!! E não era um Carlton Red, era um Marlboro light que veio justamente num momento de solidão, me seduzindo enquanto eu me sentia perdida num lugar cheio de almas vazias em carcaças Dolce Gabanna. Até tentei puxar assuntos, tinha uns gatos pingados, mas depois de dois sorrisos eu não conseguia falar de outra coisa. Meu único assunto era meu término de 11 anos de relacionamento, fidelidade e companheirismo. O primeiro trago me deixou tonta, sério! Juro por tudo que há de mais sagrado. Adorei sentir onda com o cigarro de novo. Mas me senti culpada, traidora, e o gosto e o cheiro eram mais fortes do que antes. Na inútil tentativa de aliviar um pouco a culpa, usei um discurso tolo de que detesto qualquer atitude radical e que ‘pra sempre’ e ‘nunca mais’ é muito tempo! Não discordo, então só por hoje não quero fumar nenhum cigarro.

Nunca antes em todos os 26 anos vividos e 11 fumados, eu tentei parar de fumar cigarro. Não, eu até que tentei, mas sem êxito. Voltei no fim do primeiro dia, vergonhoso. Talvez por isso eu esteja tão curiosa em saber onde isso vai dar, me sinto estranhamente motivada.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

dia 01

É como um interruptor que desliga. O fim de um casamento todo cagado. Querer assistir um show do Legião Urbana ou do Bob Marley. Sei lá, é como qualquer coisa que você queira, mas que não existe mais.

Enquanto escrevo não consigo não chorar. Inclusive resolvi escrever agora por isso, pra extravasar. “Há uma nuvem de lágrimas sobre os meus olhos dizendo pra mim que você foi embora e que não demora meu pranto rolar”. A dor da separação! Estranho, porque me sinto feliz pelo passo. Foi um término sem volta. Era uma relação estranha, chegou um ponto em que eu não via os benefícios. Mentira, sempre vi benefícios e sempre vi o mal que me faz.  A diferença está entre ver e enxergar. Me policio, entre uma frase e outra existe uma intensa vontade de tê-lo entre meus dedos. Só quem fuma sabe o prazer que existe dentro dos 5 minutos. Pra explicar, talvez eu deva voltar alguns anos e lembrar meu primeiro contato com ele. Quando nos conhecemos assim, mais intimamente.

(Sabe aquela dor que você sentiu quando se deu conta de que algo que estava sempre ao seu lado não está mais? É o que eu sinto agora. E foi OPÇÃO! O problema é que a consciência de que foi opção não repara a dor da perda, talvez até acentue)
Está bem, é muito drama se você parar pra analisar que o sujeito aqui é o cigarro. Então, meus surtos de tristeza à parte, continuemos.

A primeira vez que fumei um cigarro foi em meados de 1996. Eu estava na sexta série de um colégio tradicional, de freiras. Uma colega de turma me levou com mais uma amiga para um vão que existia entre a quadra e um portão com uma rampa grande que nunca se abria. Era hora do recreio, eu devia ter 12 ou 13 anos. Não sei se o que me atraiu foi o proibido ou a curiosidade (meus pais sempre fumaram – alguma coisa boa aquilo tinha). Talvez os dois. Me lembrando hoje e tentando buscar detalhes da situação, lembro da figura da minha colega de turma que me deu o cigarro e presto atenção às suas atitudes antes e depois do evento. Ela era uma adolescente com umas amizades bem perturbadas (digo fora do colégio, porque lá dentro as pessoas em geral eram até bem devagar). Tanto que se enveredou desde cedo à prática de outras drogas, mais heavy metal punk dark. Ao contrário de mim. Tenho 2 irmãs com idades muito próximas de mim. Mentira de novo. Tenho 3 irmãs e 1 irmão, só que apesar de toda a amizade que existe hoje entre a gente, o casal mais novo era muito pequeno e não participou da minha vida nessa época, não fomos criados juntos mas pra frente certamente serão citados.
Sou de uma família ‘semi-tradicional-conservadora’. Chamo de ‘semi’ porque houve tentativa de ser ‘tradicional-conservadora’, mas não estou certa de ter sido bem sucedida. Como dizia, fui criada com 2 irmãs. A mais velha tem 1 ano e 8 meses de diferença pra mim e a mais nova é 3 anos mais nova que eu. Desde que eu me entendo por gente eu me lembro do discurso anti-drogas da minha mãe “se um dia eu descobrir que uma de vocês usa qualquer tipo de droga eu morro, não terei forças pra ajudar ninguém, vocês terão me destruído, minha vida se auto destruirá em 3, 2,..” Não mãe, calma!!! Isso até me fez lembrar do dia que ela descobriu minha relação extra-conjugal com a maconha. Mas isso eu conto depois. Do que eu falava mesmo? Ah, da minha primeira experiência com o cigarro (nossa, preciso me controlar. me deu uma saudade imensa dele nessa entre-frase).
Fugi de muitas drogas, mas do cigarro foi difícil. Comprei meu primeiro maço, eu lembro. Ou acho que lembro. Mas também se não foi o primeiro foi um dos primeiros. Era um marlboro light maço. No banheiro de casa tinha um pato oco com um fundo de papel que enfeitava a pia. Muito experta, eu fiz um rasgo no papel e escondia o maço lá dentro. Olha que máximo e inteligente! Eu ia tomar banho e ficava 3 horas no banheiro! Antes fosse me descobrindo... mal sabia eu que ali nascia uma relação tão forte, resistente e... nojenta, vamos combinar! E achava que ninguém desconfiava, afinal de contas minha mãe fumava e jamais perceberia o cheiro de cigarro no banheiro quando eu saia de lá de dentro. E realmente não sentia não, ou pelo menos se fingia de desentendida. Até que minha avó descobriu o pato! A velha era danada queria me fazer comer cigarro e tudo. Mas minha mãe colocou panos quentes e me fez jurar que não fumaria mais. E assim eu fiz... nos 3 anos seguintes. Não me lembro de ter fumado durante esse período. Mas também quando voltou, meu querido! Veio com força total, com tudo dentro! Eu tinha acabado de mudar de colégio, era um colégio mais liberal, não tinha uniforme, as pessoas fumavam no pátio abertamente (e no banheiro, os ilegais), minha turma só tinha alunos novos, cheios de descobertas e assim foi. Aí eu já não estava mais preocupada em fumar só dentro do banheiro, fumava no meu quarto, na cozinha e explanava legal! Queria mais era ser descoberta mesmo. Nunca gostei de fazer nada escondido. E deu certo! Dona Maria descobriu e diferente da primeira vez, teve uma conversa mais aberta e acatou minha estúpida decisão de começar a fumar. Não foi por falta de aviso, ela me disse que era uma estúpida decisão, meu avô disse, meu pai e todos aqueles que fumavam também. Mas eu não acreditei. E fumei das marcas mais punk rock que existiam nos bares mais próximos de qualquer lugar onde eu estivesse.
A ideia era concluir o 2º grau no colégio novo, mas no final do 2º ano por uma sucessão de motivos aleatórios, resolvi voltar pro meu colégio de origem. Aquele tradicional, de freiras. Lá reencontrei velhos amigos e fiz novos amigos. Com uma velha e uma nova amiga, criamos uma amizade ímpar e uma cumplicidade fumígena. Só cigarro. Por enquanto. Eu estava no auge dos meus 17 anos, 3º ano do colégio, escolhendo faculdade, me sentindo ‘A’ adulta. E fumar era tudo de bom, auto-afirmação! E foi aí, nesse momento que eu encontrei o Carlton Red. O Carlton pra mim, não sei definir ou explicar. Sempre disse que se um dia parassem de fabricar Carlton Red (detalhe para o RED. os outros também são bons, mas o RED em especial é magnífico) eu não conseguiria mais fumar outra marca.

Em 2005 passei um tempo na Espanha. Na ida, levei dois pacotes de Carlton Red, já imaginando que lá não o encontraria. Muita gente me disse que por lá eu poderia fumar o Lucky Strike que era praticamente a mesma coisa. Cara, ‘praticamente’ está longe de ser ‘a mesma coisa’. Como eu imaginava, sem o Carlton fui fumando cada vez menos. Não fiz o teste, voltei antes disso, mas acredito que não demoraria muito eu não estaria mais fumando.
Difícil falar dele e não sentir vontade de ter o prazer de tê-lo entre os dedos. Já vai me dando vontade de chorar, como que por um velho amor. Mas um amor que me traiu, que nunca gostou de mim, que me enganava e que me fez refém por tanto tempo. Um amor que fede!!! Eca!

É isso aí, quase 24 horas sem ele. Sempre lembrando que pra caminhar qualquer distância é preciso andar o primeiro metro. E vamo que vamo!

Quanto tempo isso vai durar, eu realmente não sei. Nem sei se eu vou conseguir escrever aqui todo dia, contando a minha dura guerra da separação. Mas como diriam meus amigos do AA, um dia de cada vez! =)