segunda-feira, 27 de setembro de 2010

17º.

O cigarro aproxima as pessoas de certa forma. Quem fuma sabe bem do que eu estou falando. Você sai pra fumar um cigarro, normalmente a área de fumante é externa ou bem separada da de não fumantes. Normalmente não, hoje é lei, né? Aí, enquanto você está do lado do cinzeiro aparece outro fumante que só está ali pelo mesmo propósito que você, daí surge uma conversa, um sorriso, uma amizade e às vezes até uma paquera.

Há alguns anos minha avó estava internada em um hospital, na Barra da Tijuca. Ela ficou pouco mais de um mês no CTI. As visitas tinham 2 turnos: o primeiro era por volta de 14:00 e o segundo às 20:00. Como nós morávamos na zona sul, ficava complicado de ir e voltar nos dois horários, portanto resolvemos ir cedo e ficar até o fim do dia por lá. Todos os dias. Lembro que foi logo quando eu comecei a assumir o cigarro e aos poucos eu saia com a minha mãe pra fumar, até que perdi toda a cerimônia. 
Numa das vezes que estávamos do lado de fora fumando, eu reparei em um belo rapaz que se aproximou pra pedir o isqueiro. Emprestei, ele ascendeu seu cigarro e se pôs ao nosso lado. Começamos a conversar, ele disse que era de Niterói, conversamos um pouco mais de amenidades e ele se foi. Pra variar, a-do-rei!! Queria levá-lo pra casa! Passou e não o vi mais naquele dia.
No dia seguinte reparei que ele estava na fila da visita no período da tarde. Dei um sorriso de longe e ele se aproximou. Me disse que a mãe tinha sofrido um AVC e que estava no CTI. Contei da minha avó e trocamos histórias tristes. Acabou a visita, ele saiu pra fumar um cigarro e eu fui atrás pra fumar o meu também. Conversamos mais e assim começou uma paixonite. 
Eu queria ir todos os dias passar o dia no hospital e minha mãe não entendia muito bem, já que eu poderia ir só na visita da noite junto das minhas irmãs. Mas eu dizia que não queria deixá-la sozinha com meu avô, não era certo abandoná-los (oh, que exemplo de menina!). Até que ela percebeu meu affair.  Acredito que não teria problemas se eu não tivesse 16 anos, o rapaz 25 e ambos fossemos comprometidos. Está certo que meu relacionamento já estava no fim e era o começo de uma nova era na minha vida, mas eu abusei do amor dos outros, confesso. Pra variar o ex e o do hospital também tinham o mesmo nome (pelo menos minhas trocas são bem pensadas). 
Fiquei realmente apaixonada por ele. Cada um terminou com seu respectivo par, e foram umas 3 semanas de romance tórrido nos corredores do hospital. Até que a mãe dele teve alta e minha avó faleceu, na mesma semana. Ele chegou a me buscar algumas vezes no colégio, mas depois de pouco mais de um mês tomei implicância dele. Não me pergunte por que, não sei responder. Talvez ele estivesse mais apaixonado por mim do que eu por ele. Ou não, talvez a graça estivesse em se encontrar pra fumar um cigarro. Brochei. Não teve cigarro que resolvesse. Nunca mais soube dele.

5 comentários:

  1. Este texto será escrito em uma sintonia de pensamentos com o blog SmokerMemories.



    Você respira melhor, se sente muito mais leve, mais cheirosa. Uma estranheza de sensações e mudanças repentinas e paradoxas de sentimentos... Corroborando com smokermemories, o cigarro era uma ótima companhia... No ponto de ônibus, após as refeições, esperando alguém atrasado, trazia a sensação de independência... Mas, agora sem ele, dá pra ver que independência é o que se tem agora, aquela antiga independência era atrelada à ansiedade e era danosa a saúde.

    Uma independência fantasmagórica na realidade... Às vezes precisa-se sair de dentro de uma situação para averiguá-la de outro ângulo, precisava neste momento ver de fora... Precisa ver como é estar sem o cigarro e isso serve pra qualquer outra situação na vida.

    Era um relacionamento que não estava dando mais certo e isso serve de experiência pra qualquer relacionamento na vida onde você se sente impotente e não consegue impor o que realmente faz bem, ver que se encontra em um mal estar que ele esteja causando. Às vezes é melhor ver do ângulo de fora e sempre por cima! No processo de desapego, o físico e o emocional serão testados naturalmente, toda relação rompida é sentida nesses planos, alguns sentem demasiadamente e outros nem tanto... Corriqueiro dizer, porém o tempo é o senhor da sabedoria, só ele mesmo... Nos primeiros dias, pode-se achar que irá chegar a loucura, é depositada toda a sua felicidade naquele apego e neste momento de loucura se deposita com mais intensidade essa felicidade que pode cegar...

    Mas, homeostaticamente, tudo se resolve, aquela aflição, já se acostumou a não ser tanta, aquela ansiedade não vira mais fumaça.



    Good Luck SmokerMemories

    ResponderExcluir
  2. gostei do "belo" rapaz, aprendeu comigo né, hohohoh

    ResponderExcluir
  3. "A dor é inevitável, o sofrimento é opcional"
    Carlos Drummond de Andrade

    Minha cara amiga Lua, que ilumina meus dias e noites. Obrigada pelo ombro amigo nessa difícil jornada.. =)

    ResponderExcluir
  4. é muito legal ouvir histórias ligadas pelo cigarro e pensar que eu ainda estou ligada nele. o mal do fumante é ser dependente ao ponto de admitir que não o larga porque não quer.
    é triste porque seus malefícios não estão escondidos. é como se fosse um amor não-correspondido, onde você se obriga a gostar no início e começa a depender, numa ligação profunda, obsessiva e compulsiva, onde quanto mais mal te faz, mais você quer!

    to te seguindo!!
    amei os textos e vc não é nem um pouco pervertida ta?!

    ResponderExcluir
  5. Hahhaha, muito boa essa história! Tá muito bom o seu blog, muito gostoso de ler. Continue com o poder. Lembre-se: "O cigarro parece meu amigo, mas é meu inimigo"! rs

    ResponderExcluir