sexta-feira, 10 de setembro de 2010

dia 01

É como um interruptor que desliga. O fim de um casamento todo cagado. Querer assistir um show do Legião Urbana ou do Bob Marley. Sei lá, é como qualquer coisa que você queira, mas que não existe mais.

Enquanto escrevo não consigo não chorar. Inclusive resolvi escrever agora por isso, pra extravasar. “Há uma nuvem de lágrimas sobre os meus olhos dizendo pra mim que você foi embora e que não demora meu pranto rolar”. A dor da separação! Estranho, porque me sinto feliz pelo passo. Foi um término sem volta. Era uma relação estranha, chegou um ponto em que eu não via os benefícios. Mentira, sempre vi benefícios e sempre vi o mal que me faz.  A diferença está entre ver e enxergar. Me policio, entre uma frase e outra existe uma intensa vontade de tê-lo entre meus dedos. Só quem fuma sabe o prazer que existe dentro dos 5 minutos. Pra explicar, talvez eu deva voltar alguns anos e lembrar meu primeiro contato com ele. Quando nos conhecemos assim, mais intimamente.

(Sabe aquela dor que você sentiu quando se deu conta de que algo que estava sempre ao seu lado não está mais? É o que eu sinto agora. E foi OPÇÃO! O problema é que a consciência de que foi opção não repara a dor da perda, talvez até acentue)
Está bem, é muito drama se você parar pra analisar que o sujeito aqui é o cigarro. Então, meus surtos de tristeza à parte, continuemos.

A primeira vez que fumei um cigarro foi em meados de 1996. Eu estava na sexta série de um colégio tradicional, de freiras. Uma colega de turma me levou com mais uma amiga para um vão que existia entre a quadra e um portão com uma rampa grande que nunca se abria. Era hora do recreio, eu devia ter 12 ou 13 anos. Não sei se o que me atraiu foi o proibido ou a curiosidade (meus pais sempre fumaram – alguma coisa boa aquilo tinha). Talvez os dois. Me lembrando hoje e tentando buscar detalhes da situação, lembro da figura da minha colega de turma que me deu o cigarro e presto atenção às suas atitudes antes e depois do evento. Ela era uma adolescente com umas amizades bem perturbadas (digo fora do colégio, porque lá dentro as pessoas em geral eram até bem devagar). Tanto que se enveredou desde cedo à prática de outras drogas, mais heavy metal punk dark. Ao contrário de mim. Tenho 2 irmãs com idades muito próximas de mim. Mentira de novo. Tenho 3 irmãs e 1 irmão, só que apesar de toda a amizade que existe hoje entre a gente, o casal mais novo era muito pequeno e não participou da minha vida nessa época, não fomos criados juntos mas pra frente certamente serão citados.
Sou de uma família ‘semi-tradicional-conservadora’. Chamo de ‘semi’ porque houve tentativa de ser ‘tradicional-conservadora’, mas não estou certa de ter sido bem sucedida. Como dizia, fui criada com 2 irmãs. A mais velha tem 1 ano e 8 meses de diferença pra mim e a mais nova é 3 anos mais nova que eu. Desde que eu me entendo por gente eu me lembro do discurso anti-drogas da minha mãe “se um dia eu descobrir que uma de vocês usa qualquer tipo de droga eu morro, não terei forças pra ajudar ninguém, vocês terão me destruído, minha vida se auto destruirá em 3, 2,..” Não mãe, calma!!! Isso até me fez lembrar do dia que ela descobriu minha relação extra-conjugal com a maconha. Mas isso eu conto depois. Do que eu falava mesmo? Ah, da minha primeira experiência com o cigarro (nossa, preciso me controlar. me deu uma saudade imensa dele nessa entre-frase).
Fugi de muitas drogas, mas do cigarro foi difícil. Comprei meu primeiro maço, eu lembro. Ou acho que lembro. Mas também se não foi o primeiro foi um dos primeiros. Era um marlboro light maço. No banheiro de casa tinha um pato oco com um fundo de papel que enfeitava a pia. Muito experta, eu fiz um rasgo no papel e escondia o maço lá dentro. Olha que máximo e inteligente! Eu ia tomar banho e ficava 3 horas no banheiro! Antes fosse me descobrindo... mal sabia eu que ali nascia uma relação tão forte, resistente e... nojenta, vamos combinar! E achava que ninguém desconfiava, afinal de contas minha mãe fumava e jamais perceberia o cheiro de cigarro no banheiro quando eu saia de lá de dentro. E realmente não sentia não, ou pelo menos se fingia de desentendida. Até que minha avó descobriu o pato! A velha era danada queria me fazer comer cigarro e tudo. Mas minha mãe colocou panos quentes e me fez jurar que não fumaria mais. E assim eu fiz... nos 3 anos seguintes. Não me lembro de ter fumado durante esse período. Mas também quando voltou, meu querido! Veio com força total, com tudo dentro! Eu tinha acabado de mudar de colégio, era um colégio mais liberal, não tinha uniforme, as pessoas fumavam no pátio abertamente (e no banheiro, os ilegais), minha turma só tinha alunos novos, cheios de descobertas e assim foi. Aí eu já não estava mais preocupada em fumar só dentro do banheiro, fumava no meu quarto, na cozinha e explanava legal! Queria mais era ser descoberta mesmo. Nunca gostei de fazer nada escondido. E deu certo! Dona Maria descobriu e diferente da primeira vez, teve uma conversa mais aberta e acatou minha estúpida decisão de começar a fumar. Não foi por falta de aviso, ela me disse que era uma estúpida decisão, meu avô disse, meu pai e todos aqueles que fumavam também. Mas eu não acreditei. E fumei das marcas mais punk rock que existiam nos bares mais próximos de qualquer lugar onde eu estivesse.
A ideia era concluir o 2º grau no colégio novo, mas no final do 2º ano por uma sucessão de motivos aleatórios, resolvi voltar pro meu colégio de origem. Aquele tradicional, de freiras. Lá reencontrei velhos amigos e fiz novos amigos. Com uma velha e uma nova amiga, criamos uma amizade ímpar e uma cumplicidade fumígena. Só cigarro. Por enquanto. Eu estava no auge dos meus 17 anos, 3º ano do colégio, escolhendo faculdade, me sentindo ‘A’ adulta. E fumar era tudo de bom, auto-afirmação! E foi aí, nesse momento que eu encontrei o Carlton Red. O Carlton pra mim, não sei definir ou explicar. Sempre disse que se um dia parassem de fabricar Carlton Red (detalhe para o RED. os outros também são bons, mas o RED em especial é magnífico) eu não conseguiria mais fumar outra marca.

Em 2005 passei um tempo na Espanha. Na ida, levei dois pacotes de Carlton Red, já imaginando que lá não o encontraria. Muita gente me disse que por lá eu poderia fumar o Lucky Strike que era praticamente a mesma coisa. Cara, ‘praticamente’ está longe de ser ‘a mesma coisa’. Como eu imaginava, sem o Carlton fui fumando cada vez menos. Não fiz o teste, voltei antes disso, mas acredito que não demoraria muito eu não estaria mais fumando.
Difícil falar dele e não sentir vontade de ter o prazer de tê-lo entre os dedos. Já vai me dando vontade de chorar, como que por um velho amor. Mas um amor que me traiu, que nunca gostou de mim, que me enganava e que me fez refém por tanto tempo. Um amor que fede!!! Eca!

É isso aí, quase 24 horas sem ele. Sempre lembrando que pra caminhar qualquer distância é preciso andar o primeiro metro. E vamo que vamo!

Quanto tempo isso vai durar, eu realmente não sei. Nem sei se eu vou conseguir escrever aqui todo dia, contando a minha dura guerra da separação. Mas como diriam meus amigos do AA, um dia de cada vez! =)

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